25 DE JULHO, DIA DE QUE?

Danisléia da Rosa

25 de julho marca o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e o Dia Nacional de Tereza de Benguela.

Há uma certa resistência para textos escritos em primeira pessoa.

Mas como se escrever sobre negritude, sendo negra, sem ser em “primeira pessoa”?

Este mês que celebramos o julho das pretas. Para a minha vida está sendo muito simbólico.  E digo o porquê? Julho é o mês das minhas pretas, 03/07 aniversário da minha mãe, dona Tereza, 14/07 aniversário da minha tia Maria, irmã da Dona Tereza. Na minha família de pretos e pretas, sempre foi um mês de celebração.

Infelizmente, nesse 2024 tivemos uma baixa de uma de nossas pretas, Dona Maria Braulina, umas das 6 filhas mulheres da minha avó (dona Sérgia), faleceu, perdemos mais uma preta, em 01/07/2024. 

Você leitora (o), deve estar pensando “o que eu tenho a ver com isso”?

Em 2022, a vitimização de pessoas negras – soma de pretos e pardos – em registros de homicídios correspondeu a 76,5% do total de homicídios registrados no país. Totalizando 35.531 vítimas (conforme apontado na Tabela 6.1), o que corresponde à taxa de 29,7 homicídios para cada 100 mil habitantes desse grupo populacional (ver Tabela 6.2). Em relação às pessoas não negras – isto é: brancas, indígenas e amarelas – a taxa de homicídio em 2022 era de 10,8, com 10.209 homicídios em números absolutos (Tabelas 6.4 e 6.3, respectivamente). Ou seja, proporcionalmente às respectivas populações, em média, para cada pessoa não negra assassinada no Brasil, 2,8 negros são mortos. Esse cenário de grande discrepância no perfil racial de pessoas vítimas de violência, infelizmente, não é novidade no contexto brasileiro[1]

Sou grata que minha tia, ter falecido por morte natural aos 70 anos. Em país que mõe pretos e pretas, somos a carne mais barata do mercado – como já dizia Elza Soares,artista que se utilizava de fortes metáforas para criticar como a sociedade trata as pessoas negras, desvalorizando-as e submetendo-as a diferentes formas de discriminação .

Este texto, comemorativo, explicativo e de certa forma bibliográfico, vem trazer o meu singelo e sincero olhar.

O momento de sermos didáticas, para que possa fazer sentido para as (os) leitores.

O que celebramos em 25 de julho? 25 de julho marca o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e o Dia Nacional de Tereza de Benguela.

Aqui eu poderia dizer que seria meu momento de ser historiadora, mas não sou. Mas posso falar de nós mulheres negras/pretas.

O 25 de julho foi instituído como: o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e o Dia Nacional de Tereza de Benguela.

Por quê? Nas Américas e no Caribe, em homenagem à luta e à resistência das mulheres negras, Latino-Americana e Caribenha. O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) e teve origem durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, realizado em Santo Domingo, na República Dominicana, em 1992. O evento reuniu mais de 300 representantes de diversos países para compartilhar suas vivências, denunciar as opressões e debater soluções para a luta contra o racismo e o machismo.

Aqui no Brasil em 02/06/2014 foi instituído o dia 25 de julho como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Tereza Benguela liderou entre 1750 e 1770 o Quilombo do Quariterê, após a morte de seu companheiro, José Piolho. O Quilombo do Quariterê, era situado entre o rio Guaporé e a atual cidade de Cuiabá, capital de Mato Grosso. Tereza resistiu e existiu.

Preciso ser suscinta. Mas quando falamos de negritude principalmente feminina, temos muito o que falar/escrever e dizer.

Historicamente, o termo negro/preto o principal conceito da palavra negro era “escravo”.

Aí voltamos a falar da minha vivência de mulher negra, 40+, advogada. Preciso deixa claro, pois estou fora da curva e das projeções, deste país, misógino e escravocrata. Para este suposto “Brasil do Futuro” a expectativa para a minha pessoa, com todas as variantes e estereótipos, seria, limpar o chão ou no máximo, servir as/os herdeiros dos senhores.

Aí vocês leitores lembram, que eu tentei não escrever em primeira pessoa?

Durante o período escravocrata, os navios negreiros[2] levavam de 300 a 500 escravos (em sua maioria mulheres que ao parirem, daria “LUCRO”),e o tempo de viagem, partindo de Angola, era de 35 dias, caso fossem para Pernambuco; de 40 dias, se fossem para a Bahia; e de 50 dias, se fossem para o Rio de Janeiro[3].

Ao viajar para minha cidade de origem no interior do Paraná, preciso tomar remédios em pleno 2024 sendo uma distância de 300 e poucos KM –  (como não honrar, as mulheres que resistiram a travessia do Atlântico?)

Em pleno 2024 precisamos chamar a atenção e nos impor. Como já mencionado foi apenas em 1992 que foi instituído o dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e em 2014 o Dia Nacional de Tereza de Benguela.

Mas, desde o início da invasão os povos originários eram chamados de negros da Terra. Apelido dado pelos portugueses.

O tom da nossa pele sempre foi motivo para nos subjugar e nos diminuir.

Aí começa a fazer sentido, minha escrita para vocês. Sou fruto dessa/desta resistência.

Hoje, somos a maioria da população[4], como mulheres e como negras/negros, como podemos ser minoria?

Graças a todas estou aqui, escrevendo/resistindo. Dona Sérgia minha avó, analfabeta, teve 12 filhos, morreu de morte natural. A sua maneira resistiu. Minha mãe aos 69 anos viva e ativa. Resiste.

Sim, temos muito o que celebrar, e honrar as que estiveram/lutaram antes de nós.

Sou grata e estou presente, por toda referência e lutas das mulheres que resistiram e me permitiram estar aqui.

A data de hoje é feita para todas as mulheres pretas, protagonistas da luta de uma minoria social nos direitos mas majoritárias na quantidade. Há mais negros do que brancos no Brasil, e isso é uma conta e não uma cota.

Estejamos todos atentos nesta data para observar quem são e onde estão as mulheres negras que nos cercam. O dia é delas.

Celebremos, a todas nós, negras, indígenas, pardas e miscigenadas. Estejamos todas acordadas nesta data que somos e estamos. Resistindo e celebrando as nossas conquistas e ancestralidade.

Mulheres negras. O dia é nosso!

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