Ketline Lu
No dia 05 de março de 2024, a argentina Sabrina Bölke, defensora de direitos humanos e militante do Hijos, grupo formado por filhas e filhos e familiares de vítimas dos crimes cometidos pelo governo ditatorial argentino, fora brutalmente violentada e estuprada dentro de sua própria casa, por apoiadores do atual presidente da Argentina Javier Milei. Segundo a vítima relata[Autor des1] , seus agressores lhe informaram que as violências que sofria no momento eram para que silenciasse, para que nunca mais falasse. Para deixar sua assinatura, tais criminosos escreveram na parede da casa da vítima “VLLC[Autor des2] ”, em alusão ao famoso lema de Milei “Viva la libertad, carajo”. Em nota[Autor des3] oficial, o grupo Hijos esclarece que o ataque tem alto teor político, porque a vítima é conhecida militante pelos direitos humanos e pelo feminismo.
No Brasil, insta destacar outro caso de violência contra uma mulher defensora de direitos humanos e do feminismo, já que finalmente após longos seis anos sem respostas, em 24 de março de 2024, ocorreu a prisão dos mandantes do assassinato de Marielle Franco, que precocemente perdeu a vida , sendo silenciada para sempre. O que mais chama atenção no caso brasileiro é a presença de figuras masculinas de alto prestígio social e com posições fortes na política, afinal um dos mandantes é nada menos que conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro e outro é deputado federal. É simplesmente chocante. No caso argentino, embora não haja até o momento qualquer prova no sentido de que Javier Milei tenha qualquer participação direta nas agressões contra Sabrina, foi noticiado que o presidente argentino curtiu uma postagem[Autor des4] no X (antigo twitter) que questionava a veracidade dos relatos da vítima, o que representa clara intenção de não somente desacreditá-la, como também de defender seus agressores publicamente.
É importante destacar que para além desses atos extremos de ataques físicos, estupros e assassinatos, há diversas formas de violência cometidas especialmente contra mulheres defensoras de direitos humanos, a saber: não reconhecimento e marginalização de seus trabalhos, estigmatização, campanhas públicas de descrédito, ataques à honra e à reputação, ameaças e ataques na esfera privada e contra familiares, tortura, desaparecimentos, criminalização e lawfare, dentre outras. Não são inéditos esses episódios de violações da dignidade feminina, cujo intuito claro é silenciar e é de extrema relevância que não deixemos esses casos proliferarem. Esses dois casos, portanto, devem ser analisados por um motivo muito importante: nós, mulheres, precisamos mais do que nunca de união e solidariedade.
Para chegar ao ponto de cometer estupro e até homicídio, ou até defender os perpetradores de tais violências e desacreditar a vítima, é evidente que falta humanidade a esses agressores. Esse tipo de violência quando analisado pelas lentes da perspectiva de gênero só evidencia as relações hierárquicas estabelecidas entre homens e mulheres na sociedade em que vivemos, demonstrando que a questão feminina transcende a mulher vítima de tais crimes e importa a todas nós. Se nos calarmos e aceitarmos, a violência contra as mulheres só escalará. Não nos calemos diante dessa violência que todos os dias vitima mulheres. Justiça por todas as Marielles e Sabrinas!
[Autor des1]https://www.eldiarioar.com/politica/militante-hijos-abusada-revelo-identidad-dijeron-no-hablara_1_11242675.html
[Autor des2]https://www.lanacion.com.ar/politica/hablo-por-primera-vez-la-militante-de-hijos-que-fue-golpeada-y-abusada-nid25032024/
[Autor des3]https://www.instagram.com/p/C4xtTpEu-1I/?igsh=a3B0Y3lkdDVqcTd1
[Autor des4]https://www.ambito.com/politica/las-reacciones-del-arco-politico-la-denuncia-abuso-sexual-hijos-n5969104