Mulheres, cinema e Direito: uma reflexão sobre a representatividade na indústria cinematográfica

Gisele Porto Barros[1]

 

Ao recentemente receber um dos prêmios mais prestigiados da indústria cinematográfica e televisiva – o Globo de Ouro – e ao ser indicada como melhor atriz na mais aclamada premiação internacional – o Oscar – Fernanda Torres encheu de esperança, alegria e regozijo o coração de muitos brasileiros e brasileiras. Eventos que têm sido palco de importantes debates sobre questões sociais como representatividade, etarismo, racismo e igualdade de gênero, em sua última edição, deles, o Globo de Ouro trouxe à tona o espaço da mulher nas artes pelo discurso da atriz carioca.

Com papel fundamental na formação da sociedade e na construção de narrativas culturais, a indústria cinematográfica e televisiva projeta imagens e constrói histórias que não apenas entretêm, como também moldam percepções, valores e até mesmo identidades. Entretanto, por muito tempo essa poderosa indústria foi dominada por opiniões, vozes e rostos masculinos, seja nas produções, nas direções ou nas interpretações. Conquanto nos últimos anos avanços tenham sido alcançados em relação à igualdade de gênero, a luta pela representatividade feminina no cenário artístico, em especial no cinema, ainda está longe de ser concluída.

Relegadas por décadas a papeis secundários, sem protagonismo ou representando personagens estereotipadas de forma a reforçar uma feminilidade passiva e submissa, as mulheres têm a duras penas conquistado espaço e destaque enquanto cineastas, produtoras, atrizes e roteiristas. Lutando contra o “teto de vidro” que lhes dificulta a ascensão às categorias de prestígio, dia após dia, Eunices e Fernandas têm saído da invisibilidade e conquistado direitos e espaços ao reconfigurarem o cinema, e a arte em geral.

Não à toa tem sido extasiante ver a pluralidade da experiência humana, a representatividade e o protagonismo feminino reconhecidos através da emblemática performance dessa artista multifacetada, mormente ao considerarmos que a premiação se deu em virtude da atuação em filme (“Ainda estou aqui”) pelo qual resgatada a memória da violência praticada durante a ditadura militar, período sombrio na vida do povo brasileiro, em especial das mulheres[2].

O protagonismo nas artes não é privilégio, mas questão de justiça na medida em que o direito à expressão criativa é, em última análise, um direito humano. Para além da inclusão da pluralidade de mulheres nas premiações internacionais e ganhos de estatuetas, a representatividade de diversos gêneros, raças e culturas permite a melhor compreensão da História da humanidade[3].

Em tempos de negacionismo e revisionismo, a preservação da verdadeira memória das vítimas da ditadura se torna um ato de resistência fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa, democrática e menos desigual.

[1] Doutoranda em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Mestra em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo, Professora Adjunta no Curso de Graduação em Direito da Universidade Paulista e Professora Assistente no Curso de Pós-Graduação em Direito Contratual da PUC/SP-COGEAE.

[2] A propósito: TELES, Maria Amélia de Almeida. Breve história do Feminismo no Brasil e outros ensaios. São Paulo: Editora Alameda, 2017.

[3] Nesse sentido: LERNER, Gerda. A criação do patriarcado: história da opressão das mulheres pelos homens. Trad. Luiza Sellera. São Paulo: Cultrix, 2019.

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