Por que ainda temos poucas cientistas mulheres?

Camila Henning Salmoria 

 

Quando se pergunta porque há poucas mulheres na ciência, a resposta mais frequente atribui o fato ao desinteresse delas pela matéria. Será?

Ao falarmos de disparidade de gênero, nos referimos a um problema estrutural, decorrente de uma cultura patriarcal obsoleta, profundamente entranhada em nossas estruturas familiares e nossas relações sociais.

A determinação do gênero, baseada em cromossomos genéticos, não deveria influenciar os direitos, responsabilidades ou escolhas profissionais. Contudo, historicamente relegadas a papéis submissos, as mulheres foram confinadas às responsabilidades domésticas, enquanto os homens gozavam de direitos políticos e acesso à educação e ao trabalho remunerado. Esta dinâmica criou uma dependência financeira feminina e restringiu severamente suas opções de vida e a transmissão desta estrutura social de geração em geração tornou o processo de mudança lento e complexo.


Desde a infância, meninos e meninas são socializados em papéis de gênero distintos, com meninos recebendo brinquedos como foguetes e kits de ciência, incentivando a exploração e a assertividade, enquanto meninas são direcionadas a brinquedos que enfatizam o cuidado e a submissão. Essa diferenciação se estende ao ambiente educacional, onde meninos são frequentemente incentivados em disciplinas como matemática e ciências, enquanto meninas são estimuladas em áreas consideradas mais “delicadas” ou “sensíveis”.

Essa segregação de gênero fica, particularmente evidente em disciplinas de STEM (Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática). Um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, de 2019, destacou discrepâncias significativas na confiança demonstrada por alunos nas áreas de física e matemática, onde meninos, mostram-se mais confiantes que meninas, embora tivessem nível acadêmico equivalente, uma diferença que era menos acentuada em outras matérias. 

Essa desproporção na confiança de suas habilidades e no interesse por carreiras científicas entre meninos e meninas reflete não apenas uma questão de capacidade, mas, sobretudo, uma questão de percepção e autoimagem. A cultura desempenha um papel central nessa dinâmica, moldando as expectativas de gênero e influenciando como cada gênero percebe suas próprias habilidades e potencial. A socialização, que começa desde a mais tenra idade, frequentemente encoraja meninos a serem assertivos e a correrem riscos, enquanto meninas são incentivadas a serem complacentes e cuidadosas. Essa divisão se reflete na forma como jovens de diferentes gêneros abordam seus estudos e aspirações profissionais, particularmente em campos STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática), que historicamente têm sido dominados por homens.

Meninas com alto desempenho em matemática tendem a optar por áreas como biologia, medicina ou psicologia, sugerindo uma internalização de papéis de gênero tradicionais e uma falta de confiança em suas habilidades em campos predominantemente masculinos.

Faz-se necessário, assim, ações estratégicas que promovam a confiança de meninas em suas habilidades em física e matemática, para fomentar a igualdade de gênero e maximizar o potencial de talentos na ciência. Mas não precisamos apenas de políticas públicas, é urgente, ainda, uma mudança cultural, começando pela reeducação de pais, professores e da sociedade em geral sobre a importância de apoiar a confiança de todas as crianças em suas habilidades científicas e matemáticas. 

Além disso, a representatividade é fundamental. Aumentar a visibilidade de mulheres em posições de liderança e como especialistas em campos STEM pode ajudar a quebrar estereótipos de gênero e inspirar a próxima geração. Essa mudança cultural, embora desafiadora, é essencial para desbloquear o potencial pleno de nossa sociedade, garantindo que TODAS possam aspirar e alcançar sucesso em qualquer campo que escolherem.

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