Por Adriana de Oliveira
“Amor não é sinônimo de anulação”, essa é apenas uma das reflexões intimistas e impactantes que Elisama Santos nos apresenta nesta obra.
Ensaios de Despedida traz muitas provocações sobre as relações familiares, em especial sobre o papel imputado a mulher.
A narrativa se concentra em Cristina, uma advogada que, após duas décadas de casamento e dedicação à família, decide pelo que parece impensável, deixar o lar. Cristina é a personificação de inúmeras mulheres, inclusive na atualidade, mulheres que constroem sua vida em torno das necessidades dos outros – marido, filhos, família, e vai observando sua subjetividade e individualidade nos intervalos que lhe restam.
A obra nos aponta que essa estrutura familiar, na qual a mulher ideal é aquela abnegada para si, ao mesmo tempo que carrega o peso de ser imprescindível para os outros, é algo opressivo e por vezes insustentáveis, já que coloca a mulher nesse espaço de invisibilidade, distanciando de sua essência.
E nessa busca de se reencontrar, de autoconhecimento, por meio de cartas destinadas à sua filha, ela busca explicar os motivos de sua partida, revelando os sentimentos e experiências que a levaram a essa decisão.
Nas cartas que Cristina escreve para a filha, buscando sua compreensão e explicando que sua escolha foi movida por cansaço, exaustão emocional e a urgência de sobreviver emocionalmente, e que apesar de dolorosa, era uma decisão urgente e necessária para resgatar seu amor próprio e seu bem-estar emocional.
Ensaios de Despedida rompe com a ideia romantizada da maternidade e do casamento como espaços de autossacrifício eterno e coloca na essência da narrativa a importância de escolher-se, de se permitir existir além dos papéis sociais, o que para considerável parte da sociedade é uma transgressão, seu preço é conhecido.
Entretanto, jamais nos esqueçamos que escolher a si mesma, apesar de desafiador, é um ato de gentileza consigo, um grito de existência, de respeito à própria vida e de amor-próprio.
