Esperança

Dia 8 de março celebramos o dia Internacional da Mulher, um dia que representa a luta feminina por igualdade de direitos.

A data teve sua origem inspirada no movimento de mulheres que no ano de 1908 marcharam em Nova York reivindicando melhores condições de trabalho, redução de jornada e direito ao voto.

Mas somente em 1975 foi oficializada pela Organização das Nações Unidas (ONU), tornando-se uma data global de reconhecimento das conquistas de direitos outrora negados às mulheres, e também de reflexão sobre os muitos obstáculos que ainda atravessam nossos caminhos.  

 Ao refletir  sobre a data, me debrucei entre a esperança e o medo. 

Início pelo medo, que atravessa a vida das mulheres de modo tão avassalador e em circunstâncias impensáveis para um homem.

Medo de andar sozinha pela rua, independente do horário.

Medo de não conseguir chegar bem em casa.

Medo de voltar para casa.

Medo de viajar desacompanhada.

Medo de usar minissaia num  ônibus lotado.

Medo de tomar um drink batizado.

Medo de denunciar uma violência e ser desqualificada e culpabilizada.

Medo de não conseguir dar conta da dupla, às vezes tripla jornada de trabalho, estudos e cuidado com os filhos.

Medo de falhar como mãe.

Medo de terminar a vida sem ter se encontrado, sem ter se acolhido e se amado, porque passamos tempo demais buscando corresponder às expectativas de quem nos mede com réguas distorcidas, cruéis e injustas.

Medo de virar um número nas páginas sangrentas do feminicídio.

Com tantos medos, é possível esperançar pelos dias em que seremos vistas, ouvidas, respeitadas e valorizadas por sermos quem somos?

Todos os dias mulheres continuam sendo violentadas e violadas em seus direitos mínimos em decorrência de comportamentos validados socialmente, como o machismo, a misoginia e a ideia de supremacia do homem em relação à mulher.

Para além dos discursos e das inovações legislativas, minha esperança é de que encontremos nosso lugar de igualdade, autonomia, liberdade e respeito, que por hora seguem apenas no papel.

 A minha esperança é de que elevemos as estatísticas no mercado de trabalho, nos espaços políticos e nos cargos de decisão.

A minha esperança é de que possamos caminhar livremente pelas ruas, e de que tenhamos um lugar seguro onde repousar nossas alegrias e nosso cansaço.

A minha esperança é algum dia ouvir meu filho contar para meus netos e netas, que por ventura a vida possa me dar,  que as lutas e os sacrifícios da mãe dele não foram em vão.

Sinto uma gratidão profunda pelas mulheres que vieram antes e abriram caminhos onde não podíamos passar.

Sinto um orgulho imenso das mulheres incríveis que acolhem e abrem portas às outras mulheres.

Há um pouco de cada uma delas dentro de mim e as honro por isso.

Somos força, empatia, determinação, valentia e sobrevivência.

Não permitamos que o machismo estrutural, cruel, e muitas vezes invisível cale a nossa voz e nos impeça de prosseguir. 

Não sejamos coniventes com aqueles que rasgam nossa dignidade e nos oprimem.

Pelas que foram, pelas que estão e pelas que virão, sejamos a esperança soprando o medo.